Conversas de cabeceira XV

- Por que sempre que preciso que aquela pessoa apareça para alegrar um pouco o meu dia, ela não vem?
- E porque tua alegria tem de vir pela mão de outra pessoa?
- Primeiro porque gosto da pessoa e depois porque faz-me bem!
- A pessoa ou a alegria?
- As duas...que pergunta estranha!
- Não é estranha. Sabes bem como achavas que uma pessoa te fazia bem mas alegria não te dava.
- Parece contraditório...
- Mas não é. É quando estamos agarrados a uma ilusão.
- Já não estou...
- Mas estás a arranjar uma nova para te agarrares?
- Não é ilusão, é algo que gosto de sentir. 
- Sabes bem que nenhuma dessas tuas respostas provém do teu racional.
- Se for a racionalizar tudo, os sentimentos, as pessoas, vou transformar-me num robot!
- Não necessariamente, também não quero que te tornes fria mas sim cuidadosa.
- Eu sei os riscos, sei o que está implícito!
- E contudo, cais sempre que nem uma patinha.
- Não é cair, é aproveitar, é saborear a vida...
- Mas tu és gulosa por natureza, sabes que chega a um ponto que isso não te chega. E depois?
- Depois...começo de novo!
- Não estás cansada de começos e fins?
- Estou cansada do incerto, isso sim!
- Então porque estás com pena que o incerto não tenha aparecido?
- Ora bolas...é cada pergunta que me fazes? É para complicar ainda mais?
- Nunca! Estou a racionalizar, coisa que tu não fazes!
- Não faço? Passo a vida a fazê-lo e olha só, emaranhada sempre em dúvidas, incertezas. Como o P. diz, tenho de ser mais espontânea.
- Ser espontânea não é ser burra.
- Só me sinto burra por uma situação que bem sabes, o resto não me faz sentir burra, faz-me sentir viva.
- Então vive...se o incerto aparecer. Aproveita. Mas cuida-te, esse coração está pior que um chapéu de um pobre!

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