Eu gosto de andar de autocarro
Desde muito cedo comecei a ir para a escola de autocarro. Escola preparatória e já fazia o meu primeiro percurso de forma independente. Passe na mão e mochila às costas lá ia eu feita gente grande. Logo no primeiro dia que entro no autocarro sozinha, o motorista decide meter-se comigo. Era pequenina, 5 tostões de gente e lá ele achou piada. Mostrei o passe e ele tira-mo da mão. C’a susto levei…”Mas porquê?!?...O que fiz?!?”.
- Esta não és tu – diz-me ele.
- Sou, sou…- respondo completamente embaraçada!
- É a tua irmã…!!! – Continua ele.
- Não é nada! Sou eu! – Já cheia de medo.
- Certeza?! Deixa ver melhor…tens razão...vai lá!!! – Termina ele entregando-me novamente o passe para a mão!
Mas que aventura logo no primeiro dia! Chiça!
Anos se passaram. Escola preparatória, secundária, faculdade (até ao primeiro ano que depois arranjei boleia) e sempre uma passageira assídua nos transportes públicos.
No outro dia precisei de ir à baixa do Porto. Coisa rápida de carro mas muito complicada em termos de estacionamento, digna mesmo de uma dor de cabeça. Como o que tinha a fazer ainda demorava algumas horas, os parques estava completamente fora de questão. Decidi tornar o passeio mais agradável e fui de autocarro. Um percurso mais longo e demorado é claro, mas sem dúvida bastante agradável. Claro que fui em modo passeio. Se o fizesse diariamente para trabalhar não lhe teria dado o mesmo valor tal como não dei durante todos os anos que fiz uso.
Maravilha! Não tinha mesmo noção de como é muito agradável termos a oportunidade de cruzarmo-nos com várias pessoas e diferentes. Já me tinha ocorrido essa ideia mas só naquela manhã é que a constatei com certeza.
Desde que comecei a conduzir que me tornei uma pessoa solitária, o que é de esperar pois na maioria das vezes ando sozinha. Vou eu e os meus pensamentos em caminhos já feitos em piloto automático, a ver as pessoas do lado de fora (menos em auto-estrada é claro) mas sem qualquer contacto, nem mesmo visual. O afastamento é enorme. Vamos num mundo à parte no qual nos tornamos seres de motor e rodas.
Apesar do pára e arranca e dos quase 30 minutos de viagem, foi bastante agradável voltar a ter a mesma sensação que tinha. Rotinas, pessoas, cumplicidades, hábitos, peripécias ou simples viagem de ida ou volta, são o que temos nos transportes públicos. Quando os usamos com regularidade criamos uma espécie de vínculo com quem o faz também. À mesma hora cruzamo-nos com as mesmas pessoas. Já sabemos mais ou menos quem entra onde e onde sai, percebemos se trabalha ou estuda e, à medida que o tempo avança, essas pessoas também se apercebem que somos uma espécie de regular “companhia” silenciosa. Os olhares cruzam-se como que a cumprimentar-se. Uma vez por outra surge um sorriso ou outro gesto como quem diz “cá estamos de novo”!
Lembro-me de que na altura da escola tinha muitos amigos que iam no mesmo autocarro que eu. Era o número 55 e ia para o Bolhão (ou para Baguim do Monte, consoante a ida ou volta). Era engraçado e divertido. A viagem tornava-se agradável. Grandes mochilas a ocupar imenso espaço, luta pelos lugares sentados e preferência pelos lugares na parte de trás do autocarro. Era onde os “mais fixes” sentavam-se na altura. A conversa durava até à próxima paragem onde um de nós teria de sair até sobrar apenas um. Apesar de minha paragem ficar quase no fim da linha, nunca chegava sozinha. “Até amanha”, dizíamos nós pois já sabíamos que de manhã cedo nos voltaríamos a ver e juntos faríamos a viagem vendo as mesmas pessoas entrar e sair.
Como pensar nisso trouxe-me maravilhosas recordações. Grandes amizades criei nessas viagens, conversas óptimas e variadas com imensos amigos, conhecidos e vizinhos, troca de bilhetinhos e brincadeiras, namoricos e asneiradas (como as bombinhas de cheiro do Carnaval que matavam qualquer um). E todas a vezes que o autocarro aparecia cheio de gente? Pareciamos sardinhas em lata, já colados às portas a fazer pressão para entrar mais um. E os dias de chuva e o cheiro tão característico dos guarda-chuvas a molhar o chão todo, ou quando aparecia "aquela" senhora que trazia sempre grão de café da Brasileira e espalhava um aroma tão agradável...!!!
- Esta não és tu – diz-me ele.
- Sou, sou…- respondo completamente embaraçada!
- É a tua irmã…!!! – Continua ele.
- Não é nada! Sou eu! – Já cheia de medo.
- Certeza?! Deixa ver melhor…tens razão...vai lá!!! – Termina ele entregando-me novamente o passe para a mão!
Mas que aventura logo no primeiro dia! Chiça!
Anos se passaram. Escola preparatória, secundária, faculdade (até ao primeiro ano que depois arranjei boleia) e sempre uma passageira assídua nos transportes públicos.
No outro dia precisei de ir à baixa do Porto. Coisa rápida de carro mas muito complicada em termos de estacionamento, digna mesmo de uma dor de cabeça. Como o que tinha a fazer ainda demorava algumas horas, os parques estava completamente fora de questão. Decidi tornar o passeio mais agradável e fui de autocarro. Um percurso mais longo e demorado é claro, mas sem dúvida bastante agradável. Claro que fui em modo passeio. Se o fizesse diariamente para trabalhar não lhe teria dado o mesmo valor tal como não dei durante todos os anos que fiz uso.
Maravilha! Não tinha mesmo noção de como é muito agradável termos a oportunidade de cruzarmo-nos com várias pessoas e diferentes. Já me tinha ocorrido essa ideia mas só naquela manhã é que a constatei com certeza.
Desde que comecei a conduzir que me tornei uma pessoa solitária, o que é de esperar pois na maioria das vezes ando sozinha. Vou eu e os meus pensamentos em caminhos já feitos em piloto automático, a ver as pessoas do lado de fora (menos em auto-estrada é claro) mas sem qualquer contacto, nem mesmo visual. O afastamento é enorme. Vamos num mundo à parte no qual nos tornamos seres de motor e rodas.
Apesar do pára e arranca e dos quase 30 minutos de viagem, foi bastante agradável voltar a ter a mesma sensação que tinha. Rotinas, pessoas, cumplicidades, hábitos, peripécias ou simples viagem de ida ou volta, são o que temos nos transportes públicos. Quando os usamos com regularidade criamos uma espécie de vínculo com quem o faz também. À mesma hora cruzamo-nos com as mesmas pessoas. Já sabemos mais ou menos quem entra onde e onde sai, percebemos se trabalha ou estuda e, à medida que o tempo avança, essas pessoas também se apercebem que somos uma espécie de regular “companhia” silenciosa. Os olhares cruzam-se como que a cumprimentar-se. Uma vez por outra surge um sorriso ou outro gesto como quem diz “cá estamos de novo”!
Lembro-me de que na altura da escola tinha muitos amigos que iam no mesmo autocarro que eu. Era o número 55 e ia para o Bolhão (ou para Baguim do Monte, consoante a ida ou volta). Era engraçado e divertido. A viagem tornava-se agradável. Grandes mochilas a ocupar imenso espaço, luta pelos lugares sentados e preferência pelos lugares na parte de trás do autocarro. Era onde os “mais fixes” sentavam-se na altura. A conversa durava até à próxima paragem onde um de nós teria de sair até sobrar apenas um. Apesar de minha paragem ficar quase no fim da linha, nunca chegava sozinha. “Até amanha”, dizíamos nós pois já sabíamos que de manhã cedo nos voltaríamos a ver e juntos faríamos a viagem vendo as mesmas pessoas entrar e sair.
Como pensar nisso trouxe-me maravilhosas recordações. Grandes amizades criei nessas viagens, conversas óptimas e variadas com imensos amigos, conhecidos e vizinhos, troca de bilhetinhos e brincadeiras, namoricos e asneiradas (como as bombinhas de cheiro do Carnaval que matavam qualquer um). E todas a vezes que o autocarro aparecia cheio de gente? Pareciamos sardinhas em lata, já colados às portas a fazer pressão para entrar mais um. E os dias de chuva e o cheiro tão característico dos guarda-chuvas a molhar o chão todo, ou quando aparecia "aquela" senhora que trazia sempre grão de café da Brasileira e espalhava um aroma tão agradável...!!!
Evidente que aconteceram peripécias menos boas como é normal em ajuntamentos mas nada verdadeiramente digo de ser lembrado ou de apagar o que de bom existiu.
Digo concerteza: tenho saudades!
Gostei : ) mas eu ca' não gosto de andar de autocarro :x
ResponderEliminarTambém gosto muito. Já escrevi inúmeras vezes sobre isso, como neste texto:
ResponderEliminarhttp://gimbras.nofuturo.com/esta-lisboa-que-eu-amo
Ontem também me aconteceu uma peripécia fixe, mas no metro. Vou contar mais tarde.
Já pareces eu que quando vou ao dentista apanho 1 autocarro e o comboio. Podia ir de carro, mas para além do problema do trânsito e do estacionamento, ir de transportes é muito mais divertido! Tenho sempre histórias para contar depois destas aventuras nos transportes.
ResponderEliminarGimbras: conta lá!!
ResponderEliminarInês: era um bom tema para um post. Partilha aí as tuas aventuras :)
Vou contar, deixa-me só terminar aqui uma cena no trabalho.
ResponderEliminarP.S.: Adorei mesmo a imagenzita do autocarro. Eheheh! Muito fixe.
ResponderEliminar