Também fomos feitos para estar sozinhos
Custa-me a entender porque o ser humano acha que não foi feito para viver sozinho.
Muitas são as vezes que ouço as pessoas confundirem os termos viver sozinho com viver isolado.
Quando se afirma que o ser humano não foi feito para viver sozinho é no sentido de viver em isolamento. O ser humano (como com muitas outras espécies) precisa de conviver com semelhantes para uma vida mentalmente saudável, contudo, nada indica que esse conviver signifique procriar, arranjar uma companhia amorosa. Na mesma assim, muitas pessoas fundem estes dois significados num só como se fosse condição obrigatória humana encontrar um companheiro para a vida (ou vários companheiros, conforme o andamento da coisa).
Existem muitos seres humanos que estão bem sozinhos, independentemente do período de tempo. E por sozinhos devemos entender sem um parceiro amoroso porque de outra forma sim, a solidão, sem convívio com ninguém pode ser prejudicial. Mas estarmos bem connosco e com nossa companhia é fundamental e até mesmo viciante. Conheço que não aceite que se consiga estar bem sozinho uma vez que as suas crenças e valores foram construídos sobre a base de que, acompanhado amorosamente, se faça tudo melhor. Mas é um conceito muito limitativo. Estou em crer que é até mesmo um pensamento que destrói a ideia de nós mesmos como seres independentes. A felicidade não se constrói unicamente com base no pressuposto que devemos seguir a linha orientadora de encontrar alguém, casar e ter filhos. Há muito essa linha tem vindo a ser quebrada, apesar de continuarem a serem alvo de pré-conceitos e preconceitos, de acharem que são solteirões ou solitários os 'pobres coitados' que não encontram o seu testo. Mas há um magote de pessoas a conseguirem libertar-se e a conseguirem viver bem sem casar e sem ter filhos. Isto não é obrigatório de se fazer, nem pensar. Quantos conhecem que estariam melhor se nunca tivessem casado ou decidido ter filhos? Quantos conhecem que vivem emparelhados mas infelizes, incapazes de estarem sozinhos? Quantos conhecem que vivem relações de fachada? Há mesmo quem tenha filhos apenas porque crêem que os seus pais gostariam de ter netos ou porque a família pressiona a isso.
No meio disto tudo, o fundamental é perceberem o propósito que nos traz por cá. A vida é muito mais grandiosa do que a incessante procura por um companheiro. Muita pessoas terminam esta vida sem saberem quem são, fundidas numa outra pessoa, em rotinas de casal, em ideias conjuntas, em clichés como 'somos um só'. Não é à toa que, quando muitos relacionamentos terminam, quando nos conseguimos erguer depois da levar a pancada, das primeira coisas que fazemos é olhar por nós, há novas rotinas que se adoptam como por exemplo, ir ao ginásio, ou iniciar uma nova dieta, um novo passatempo... deixamos de viver centrados na existência de outra pessoas e relembramos que existimos, o que muita vezes é assustador. Já vi entrarem em pânico (eu própria já vivi esse pânico), o mundo parece não fazer sentido, de repente é como se tudo se tornasse gigante e assustador, o mundo é visto como se fosse a primeira vez e não estamos preparados para isso. O que acontece é que depois deixamos-nos enrolar por outra relações, muito rapidamente, porque o medo de enfrentar o desconhecido é maior, é muito mais fácil e confortável nos agarrarmos a outra pessoa como se fosse uma bóia de salvação e deixarmos-nos ir na corrente quando, na verdade, o que devemos fazer, antes de tudo, é simplesmente boiar, relaxar, descansar, deixar o sol bater no rosto e sentirmos-nos como parte de algo muito maior. E isso leva-nos a descobrirmos-nos, descobrir as imensas pessoas que temos dentro de nós, os imensos mundos e universos que nos compõem e que nos dão vida, que iluminam o nosso olhar.
Quanto mais apaixonados por nós formos, menos necessidade temos de procurar amor e atenção nos outros. O nosso relacionamento com os outros será bem mais saudável pois brotará de uma base de desprendimento. Não buscamos o outro por necessidade de companheirismo ou por nos sentirmos sós ou até mesmo porque nos dizem que já é mais do que altura de encontrar alguém. O encontro apenas acontece.
Aprendam a viver convosco e depois vivam em comunidade, sem medo.
quero acreditar porque até sou desses casmurros idealistas e românticos que pensam que nenhum homem é uma ilha e nada vale a pena se não tivermos com quem partilhar, mas que pensar ao ver como o ser humano se vai isolando da sociedade e refugiando-se no interior de si próprio evitando magoar-se, encarar um possível fracasso social, laboral ou amoroso?
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