Preciso de um vício

Tenho dito com alguma frequência que meu corpo mais valia ser doado para a ciência, não quando morresse mas agora. Acontecem coisas demasiado estranhas entre elas o ter enjoado gradualmente o tabaco ao ponto de ter deixado de fumar por não conseguir. Isso mesmo, abandonei um vício não porque quis, porque até tinha um certo prazer, mas porque meu corpo decidiu que já chegava.

Soa bem não soa? Hm...Assim assim. Nem todo o meu corpo está de acordo com esta decisão, ocorrida há já alguns meses. Do pescoço para baixo há uma opinião, do pescoço para cima outra bem diferente. Enjoei, é um facto. Muitas vezes só de imaginar o acto de fumar em si mesmo revolta-me o estômago e se cair na tentação ficarei mal disposta garantidamente. Meu cérebro já toma outra postura. Ele quer, porque quer e porque faz-lhe falta. Não que a ansiedade me ataque muita vezes, mas quando aparece não é amiga. Fica a repetir vezes sem conta que só isso acalmaria, só isso ajudaria a distrair, só isso me daria uns minutitos de descontracção e por isso entenda-se o tabaco. Já tentei várias técnicas, algumas de forma inconsciente. Comia rebuçados de mentol e de fruta o dia todo e escusado será dizer que, se o pulmão estava agradecido pela trégua, o fígado achou que não era boa ideia. Rebuçados out. Dos rebuçados fui para as bolachas, que ainda me acompanham, que enganam o chamado vício de boca por uns momentos mas que têm estado a alimentar a pequena bóia à volta da cintura. Têm os dias contados. Ginástica, dança, livros, filmes, TV, saídas...tudo tem-se revelado insuficiente principalmente em alturas que a cabeça continua a bombar e a bombardear com informação a mais. Em vez de ser produtiva é cansativa, em vez de se concentrar no que tem, insiste em focar no que falta e num ciclo vicioso (termo tão bom para o assunto) foca na falta de nicotina. Estou a tentar compensar meu cérebro, provavelmente não estarei a produzir os níveis de oxitocina que são necessários para levar este corpo mimado a bom porto e instalam-se níveis de carência e ansiedade revelados muitas vezes em impulsos e desagrado desnecessários.

Se por um lado estou orgulhosa de saber que meu corpo vive bem sem recorrer a estímulos externos por outro fico incomodada pela forma como meu cérebro ataca-me (e ataca os mais próximos) desesperado por químicos. Que mais posso fazer para distrair esta cabeça que não pára?

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